Páginas

Total de visualizações de página

sábado, 23 de novembro de 2013

soneto

oh amor! responda-me porque és
tão apegado ao abandono.
responda, de fato, como um socorro,
por que me olha sempre de viés?

ah senhor! avô de tal criação,
o Homem, filho teu, criou este monstro
a exemplo seu, e agora nesse assombro,
condena à todos a mesma maldição.

amar! amar! sofrer! amar!
sofrer! sofrer por esse amar
em toda a ímpia humana condição.

o Homem ama-te senhor,
e nesse invento à te louvar
está toda a gloria da sua perdição.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Condomínio

Poesia é
terreno baldio.
Ali, busca abrigo
o vadio, o poeta.

O resto é
compromisso,
condomínio,
métrica.

Busca Brusco

não desisto
de tentar
e sim em
possuir
quando atento
que há
muito mais
no procurar
do que
no conseguir.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

soneto

tua boca à mastigar mandíbula,
ou essa à mastigar a boca à degustar
saliva, à ruminar os vômitos enquanto
alimentos para tua pobre vida.

teus úberes à alimentar demônios à
sugar teu leite necro, azedo enquanto
ainda cedo e, mais tarde, teu putrefato
alimento à assassinar rebentos pela arte.

teu corpo inchado ao prazer dos condenados.
a carne à proclamar a crença, enquanto
tua existência alimenta o profano...

em tua paleta certamente não caberá toda
a tinta necessária à esta obra, artista ufano,
e as cores que faltam, encontrará em tua alma
                                        [enquanto humano.]



quarta-feira, 6 de novembro de 2013

pra não dizer que não falei das putas

tanto tempo o tempo
me deu para transformar
o meu lamento diante do
teu adeus, em esquecimento,
ou algo parecido em que
isso se converteu.
mas não pense que lhe esqueci,
não se iluda, do meu passado lamurioso,
às tuas custas, ainda há um pouco
em mim e trago cá estes versos
para você, assim, sem merecer,
pra não dizer que não falei das putas.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

A Fonte

quando olha para cima,
o que vê deus,
há céu, onde nos céus,
reside o eterno,
há chuva para curar a
sede ou terá que cavar fundo,
deus, o solo do inferno?

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Caminho

tudo escrito, definido,
decidido ou não.

o destino, cumprindo seu destino,
é só uma opção.

tudo escrito está.
mas quando lido,
o caminho tua
interpretação dirá.

domingo, 29 de setembro de 2013

Coma

não existe nada
quando apenas
vida há.

a vida há onde
ávida à vida a
vida há.

ou não.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Versos Viris

vislumbra vil vontades,
viaja, valsa, vacila
variantes vertigens.
verseja voluptuosidades,
verve vivaz, voraz.
vocifera, vangloria-se:
viva! viva! viva!. vibra
vossa vagina virgem
v i o l a d a. 

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Vácuo

Silêncio qual supera qualquer áudio,
como o grito primal daqueles que
amplificam suavemente a voz do ódio.

Vencido pela distância entre perder e
ignorar o pódio.

Sou eu.

Poeta. maldição que me deixou
aprisionado nesse átrio,
nesse episódio diário de
visualizar poesia no absurdo
ao tentar dar forma ao vácuo.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

A Besta

na miséria
desperdício é
pecado, na
fartura é a fome,
fera que devora
o Homem, feroz,
fere e mata. a
religião é fera
da mesma especie,
reina na selva da ignorância,
serve a fome ao Homem para
ele se alimentar de esperança.
a fé nessa fera é a garantia
da próxima janta.

domingo, 1 de setembro de 2013

Supremacia

mulher, mesmo quando estiver morto,
eu hei de cantar sobre a beleza do teu corpo,
cantarei no pós-vida a tua supremacia, que
não há superfície como tua pele, super macia,
a seda em agonia inveja tal magia, e a unica
arte que eu hei de estudar será tua anatomia.

tua liberdade, minha poesia e,
tua divindade, eu hei de
exaltar em toda minha heresia.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

999

Aquele aviso deveria ter algum fundamento. Fiquei pensando nisso o dia todo, por que a senhora Eleonor iria inventar toda essa historia? alguma coisa que ela viu à fez perceber que Beth tem ou deseja ter algo com Celso. Não sei, mas vou tirar isso a limpo hoje mesmo. Beth e Celso, como eu nunca suspeitei de nada, talvez porque realmente eu nunca tenha visto nada assim, suspeito. O que aquela velha viu? "se eu fosse você filha, ficava de olho, as vezes tudo acontece em baixo dos nossos olhos que só alguém de fora para perceber." vou falar com Beth. Se aquela vadia admitir que tem um caso com Celso eu mato ela, desgraçada, como que só agora eu percebo que aquela carinha de menina boba na verdade é uma fuça de puta. Se eu tiver que tocar a campainha mais uma vez, não tocarei, vou embora. Droga, cadê essa put.. até que enfim está vindo.
— Elisa, tudo bem, aconteceu alguma coisa?
— Aconteceu Beth, preciso falar uma coisa séria com você.
— Que foi?
— Sabe a senhora Eleonor, minha vizinha?
— Sei, o que que tem?
— Então, ela me disse hoje que ontem viu você e o Celso juntos lá no portão de casa. ela achou estranho o comportamento de vocês quando à viram e me jurou de pés juntos que vocês dois estão tendo um caso.
— Como? essa velha está louca, eu fui ontem sim até sua casa procurar você mas você não estava, então deixei com o Celso os livros que você me emprestou e só. A hora que ela nos viu eu já estava indo embora, não teve nada de estranho, essa velha deve tá caduca, Elisa.
— Não acredito que ela iria inventar isso do nada. Bom, em todo caso se realmente estiver acontecendo algo eu vou descobrir.
— Se não quiser acreditar em mim tudo bem, fale com seu marido, quem sabe nele você acredite. Outra coisa, eu nunca teria nada com o Celso, e não é por que ele é casado, mas ele não faz o meu tipo, nunca sentiria qualquer tipo de atração por um homem como ele. Quanto ele ser casado não haveria problema, já tive minhas aventuras com homens casados antes, mas eram homens que valiam o risco, agora o Celso, me poupe Elisa, e quanto aquela velha, acho bom ela não cruzar meu caminho se não eu mato ela.
— Vai demorar um pouquinho, ela viajou hoje, volta mês que vem.
— Quanto ao Celso, o que tem de errado com ele, porque você não teria uma caso com ele?
— Ah Elisa, tchau, vai conversar com seu marido e me deixa em paz.
O que há de errado com o Celso, porque essa vadia não ficaria com ele?
O Celso sempre foi um homem bonito, atraente, ainda hoje continua sendo muito atraente, ou será que só eu acho? Bom, ela também não iria admitir que o acha atraente, uma vez que néga que tenham alguma coisa. Vou falar com o Celso.
— Amor, preciso falar com você?
— Pois fale.
— O que você acha da Beth?
— Que Beth?
— A Beth, aquela que veio aqui ontem me procurar.
— Ah sim, não sabia que ela é essa Beth que você tá falando.
— Quantas Beth's você conhece?
— Nenhuma, é só que...mas porque você tá perguntando isso, o que tem essa Beth de tão especial?
— Nada, só me diga o que você acha dela?
— Não acho nada, nem lembro da cara dela, ela falou pra você que esteve aqui ontem?
— Não, a dona Eleonor me falou.
— Aham, e o que é que tem?
— Não aconteceu nada, alguma coisa que você queira me falar?
— Não, porque, o que aquela velha disse?
— Ela me disse que se fosse eu ficava de olho, as vezes tudo acontece em baixo dos nossos olhos que só alguém de fora para perceber.
— O que isso quer dizer, você não perguntou pra ela?
— Não, ela me falou que viu vocês dois ontem aqui no portão, me disse isso depois entrou no táxi e saiu, foi visitar a filha e volta mês que vem.
— Então você vai ter que esperar ela voltar e perguntar o que essa velha do caralho viu, e o que ela quer dizer com essa porra.
Dona Eleonor não teria me dito aquilo se não tivesse visto algo suspeito, nunca falou comigo, por que inventaria tudo isso? É por isso que não posso ficar com o Celso, dona Eleonor me parece bastante lúcida para ficar imaginando coisas. Hoje eu deixo o Celso. Espero que ele entenda.
— Celso, estou indo embora. Se você não é homem o suficiente para assumir que está tendo um caso com  Beth então também não é homem para mim.
— Você prefere acreditar na velha então, tudo bem, se não confia em mim prefiro que vá embora, volte pra sua vida fudida de antes.
— Me diga uma coisa antes Celso, você não acha a Beth atraente?
— Do que você tá falando Elisa, porque insiste nisso. Já falei que não acho nada, não sei se é feia ou se é bonita, se é gostosa ou não, que diferença faz agora, você já não tomou a decisão de ir embora?
— Já me decidi sim, só gostaria de saber se sente por ela o mesmo que ela disse sentir por ti.
— Ela nem me conhece, o que poderia dizer que sente por mim?
— Porque o interesse, não disse para eu não insistir nesse assunto?
— Não me fale Elisa, não me interessa mesmo. porque você  e essa Beth não vão para o inferno, levem junto também essa velha e me deixem em paz.
— Como queira Celso. Maldito.
Se prefere aquela vaca da Beth, ficará junto com ela então. VOU MATA-LOS.
Preciso achar um jeito de reunir os dois, depois eu acabo com eles. Já sei, mandarei um bilhete para Beth dizendo que me encontre hoje no estacionamento do seu prédio, lugar vazio perfeito para o que planejo, em seguida ligo para o Celso e marco com ele também no mesmo lugar. Bilhete mandado, agora vou ligar para o Celso.
— Alô?
— Oi celso, sou eu.
— O que você quer, Elisa?
— Preciso falar com você, é serio. Queria pedir desculpas.
— Tá, mas venha aqui em casa então.
— Não posso celso, na verdade eu preciso muito de um favor seu, o pneu do meu carro furou e bem que você poderia vir aqui troca-lo para mim, né?
— Você é foda Elisa, fala aquele monte de merda pra mim e depois liga pedindo ajuda.
— Desculpa Celso, eu prometo que não vou encher seu saco mais com isso, mas só se você me perdoar, me perdoa?
— Ta bom Elisa, eu vou te ajudar. Cê tá aonde?
— Eu tô aqui no estacionamento do prédio duma amiga minha, fica na rua daquela praça onde a gente se encontrava, lembra? o numero é 999.
— Beleza, to indo.
Ótimo, escondida aqui, agora é só esperar pelos dois. Chegou a vadia, espero que o Celso não demore. Que maravilha lá está vindo o Celso. Que bom que eu achei o 38 velho do meu pai, como faz tanto tempo que ele não mexe nesse revolver aposto que nem irá sentir a falta do mesmo, depois de acabar com esses dois filhos da puta eu jogo a arma no mar, plano perfeito. Agora que os dois estão juntos, na verdade cada qual em seu carro, me esperando, é hora do show, lá vou eu. Agora ligo para o Celso e peço pra ele ir até o carro de Beth.
— Oi, cadê você mulher?
— Eu to aqui no carro da minha amiga, venha aqui, meu carro tá aqui do lado. É um Fiat Punto vermelho o carro dela, tá aqui próximo dos extintores, tá vendo?
— Tô, já chego.
Pronto, agora é só me preparar. O celso tá chegando.
— Oi, cadê a Elisa?
— Celso, o que cê ta fazendo aqui?
— A Elisa marcou comigo aqui, eu vim trocar o p...espera aí, você não é a Beth, o que que tá acontecendo?
Agora. Primeiro você canalha.
— Elisa, o que é isso, que porra é essa?
'Pow' 'Pow'. Morra desgraçado. Agora você vadia.
— Elisa não nã...'Pow' 'Pow' 'Pow'. Agora se amem no inferno, malditos.
Tô me sentindo bem mais leve agora. Três semanas, a poeira já baixou, a polícia não faz a mínima ideia de quem os matou, e eu estou tranquila.
Tem alguém na porta, quem será.
— Dona Eleonor, a senhora?
— Oi minha filha, eu cheguei hoje da casa da minha filha e queria pedir desculpas para você.
— Desculpas pelo o que, Dona Eleonor?
— Aquele dia filha, quando eu estava indo viajar eu falei umas coisas pra você.
— Hã, o que que tem?
— Então filha, esqueça o que eu falei. É que eu tomo um remédio muito forte e as vezes eu tenho uns devaneios, umas confusões na minha cabeça e daí eu acabo inventando coisas. Aquele dia eu tava dopada pelo remédio quando disse aquelas coisas pra você, me perdoa tá filha, agora vou entrar por que essa friagem faz meus ossos doerem muito, até mais Elisa.
FILHA DA PUTA, matei os dois, e eles falando a verdade.Velha escrota, que bom que não joguei o revolver no mar. Acho que amanhã vou fazer uma visitinha para a dona Eleonor.

sábado, 24 de agosto de 2013

Talvez Um Blues

Queria, para você, escrever uma canção amor,
mas meu coração não é musico,
tão pouco compositor.
Queria uma canção para fugir da dor pois,
quando tenho tua ausência, consigo
decifrar da saudade a essência, tento
em lembranças materializar tua presença,
mas não tenho esse dom,
sou poeta de
grafia fria tentando riscar uma canção.
Poeta de verve vazia,
compulsivo é o
pensamento,
tentando imaginar
inspiração,
poeta de pena vadia,
tímida, soa em
suave silêncio sua
comunicação,
soa como ideia fixa
minha vontade de escrever,
pra você,
uma canção.
Sou a esperança,
no desejo onde me apego
em meio a devaneios,
desilusão por completo,
eu em ti, alheio.

Quem aludiu à minha ilusão,
quem iludiu com a falsa
alusão da tua alma ao meu
coração, meu cofre vazio?

Queria, para você, escrever uma canção amor,
queria ser tua música,

Estudar dentro do teu peito
a acústica e, gritar!
mas,
mesmo que em teu silêncio
eu seja apenas um
p s i u,
deixa-me existir em ti,
és maestrina do amor
que me feriu,
mas se à isso se opor saiba que,
quanto a canção que lhe
propus, não será feliz,
será talvez um blues,
ou quem sabe um release
do que pode ser a solidão
quando se compõe com o
coração na mesa, na pena,
na contramão do poema,
na total resignação em prol
(ainda que eu tema) da sua
certeza. Queria uma canção
de amor pra você, mas terá
apenas meu silencio
r e m a s t e r i z a d o
nessa elegia, meu sentimento
assassinado, salmodiado em
fúnebre melodia. 

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

REM

hoje, num pesadelo profano, venho-me este sonho:
estava meu mestre Augusto entre alguns anjos à
declamar o pranto de todos os demônios diante do
sofrimento humano, e o homem, almejando a gloria
dos Hágios, satisfaz-se observando a queda dos
deuses para um menos sujo plano, e essa assunção
elucida esse meu terrível sonho. o céu caindo, não
há mais paraíso, tudo está na superfície da mesma
esfera. terra, céu, inferno. agora nada desce nada se
eleva, todos somos todos, dos hipócritas celestes até
os santos espiões das trevas. 

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

João católico

João era cristão, sempre fora. tinha um tipo de devoção que só os mais doentes do cristianismo podem ter. Uma adoração aos dogmas da igreja que o tornaram solitário, evitado e, quando visto na rua, todos apontavam o dedo e diziam "viu, é nisso que a religião transforma as pessoas". Em especial a igreja católica.
João, vivia num mosteiro da cidade, cuidava da horta e do jardim. Órfão de pai, mãe e Deus, foi parar no mosteiro quando ainda era muito pequeno, ninguém sabe ao certo como apareceu lá. Quando tinha onze anos, já morando no mosteiro, João chutava bola no pátio quando acidentalmente a bola bateu numa mesa próxima e derrubou algumas garrafas de vinho, os frades adoram vinho. João foi duramente castigado, um dos frades o puniu com uma surra de vara de bambu, ainda amarrou João de forma que ficasse curvado, tirou suas calças e introduziu a vara de bambu em seu ânus, o deixou assim por cerca de uma hora. No término desse tempo o frade desamarrou João e explicou que aquilo era a punição para os pecados que ali se cometem. João nunca esqueceu esse dia, fato que o levou a sentir necessidade diária de tal punição assim que ficou adulto. Sempre antes de dormir, João diante de um crucifixo, se flagelava, quanto mais dor mais flagelo, era um masoquismo cristão, um circulo vicioso que ele adora perpetuar: pecado+dor+prazer+pecado+dor...
João passou a sentir necessidade de um pecado ainda maior, precisava fazer algo grave para ter uma punição digna do seu prazer. decidiu que atentaria contra uma criança. Como fazia todos os dias, João foi até a cidade vender algumas verduras que cultivava na horta do mosteiro, tinha uma banca na feira da cidade. Quando estava já indo embora um garotinho de uns oito anos apareceu e perguntou se ele não tinha couve, sua mãe o incumbira de comprar para o jantar, na mesma hora João traçou um plano na sua cabeça, disse ao menino que não tinha mais ali mas que ele poderia ir até o mosteiro e lá João lhe daria a couve. O menino com medo da bronca que com certeza iria levar da mãe caso chegasse em casa de mãos vazias, concordou. No caminho para o mosteiro, João tinha uma pequena carroça onde carregava as verduras, quando passavam por uma área onde havia mata fechada, João desceu e disse que ia urinar, o menino também decidiu ir, era tudo que João queria, pegou a criança pelo pescoço e levou para dentro da mata, com uma mão segurava o pescoço, com a outra baixava a calça do menino e o sodomizava. Se fartou, fez do corpo da criança seu deleite, lambia a carne machucada com fervor, mordia, chupava...gozara. Matou o garotinho. O corpo enterrou no meio da mata fechada, onde dificilmente alguém o acharia. Voltou para o mosteiro em êxtase,
foi para seu quarto atrás de punição para o pecado que cometeu. Introduziu um colar de contas no ânus, enquanto se masturbava lendo fervorosamente a bíblia, se cortava, se chicoteava como um louco, ficou nisso horas e, depois de muita dor, parou. Lembrou da criança, chorou...achou que talvez não haveria como se livrar desse pecado, precisaria de uma vida toda devotada à Cristo para se salvar, pensou, e pensou, pensou em se matar, mas não poderia partir sem antes se sentir absolvido do seu pecado, então lhe veio a mente a saída para se livrar desse peso, iria sim, passar o resto dos dias que lhe restassem à adorar ainda mais seu Deus, decidira que iria se tornar padre.
Hoje é padre, é feliz. Cercado de coroinhas sedentos por Cristo.  

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Artefato

era uma vez, outra vez,
a mesma arte em meio
à algo que procurei
ignorar, a mesma arte
me olhando, mesmo
eu sendo um pobre
diabo onde ela põe
os olhos disfarçando à
não olhar.
fosse uma vez eu à arte
me comparando, eu a
parte dela que sangra
ao nascer e em perceber
sua pena natal, em mim,
sua procedência, foge à
procurar a pena capital
para puni-la diante de tal
pecado causado pela
minha profana providência.
era(arte)uma vez,
outra vez a mesma coisa(arte)
em meio às mesma escolhas,
o fio frio dos versos em aço
que fervem a verve na veia,
do sangue do poeta em colapso
diante do nascimento de outra
vez, mais uma vez a mesma arte
azia, vazia, ensimesmada,
suave feito ácido garganta abaixo...
aos olhos de quem à aprecia,
à violenta em desespero atroz
atrás de ataraxia, atrás de tê-la,
de se render à essa heresia que
sugere que sempre outra vez,
mais uma vez, enquanto houver
dúvida acerca da vida, haverá
poesia. 

sábado, 13 de julho de 2013

Roquenrou

sobre tudo aquilo que sou,
o mínimo que posso fazer
e o máximo que faço, tudo
é roquenrou;
me agrada muito a música,
é muito mais do que tudo que
já se cantou;
me agrada a vida, o estilo
de vida onde tua moda
preferida são as roupas
batidas que ontem você
usou;
sobre tudo aquilo que sou,
mesmo antes de saber, já
havia toda uma homogenia,
já sabia o roquenrou que eu o
pertencia, e hoje a vida,
uma opera rock à morte
apologia;
a poesia salmodiava,
há poesia em berros,
distorções alforriando
cérebros, melodias
declamadas suavemente
ao peso de letras onde
deus duvida da própria
existência  e o diabo
ingenuamente impera,
apenas matéria para as
cancões que por infernos
afora buscam suas próprias
procedências;
sobre tudo que posso ser,
não há como não aludir
que o reflexo de tal espelho
confunde quem ta na frente de
quem ta querendo se refletir;
impregnado nas entranhas,
nas razões estranhas que
assustam os outros e que
nos caracteriza como poucos,
indagadores ébrios duma
lucides doida, donos de pensamentos
sem posto, loucos dessa
vida mas nem um pouco
bobos quanto a mesma vida que,
faz dos outros tolos os mocinhos,
e se antes eu ainda não disse, então
agora repito, nessa confusa trama
da vida, nós do roquenrou seremos
sempre o bandido. 'melhor estar
com os lobos enquanto o pastor
fode os novilhos'.
obrigado deus e graças à todos os
nossos deuses
por eu ser um escolhido.










quinta-feira, 2 de maio de 2013

invenção

chamei alguns cupidos para calibrar meu coração.
desde a invenção da tua ida, ele já não sente, não
bate, não pulsa. tua partida o desprogramou. no
meu peito uma máquina sem ação, que palpita em
defeito desde desilusão. como custa tal manutenção,
os cupidos se esforçam, são hábeis. agem incansáveis
atrás de uma solução. mas há um risco toda essa
operação. há quem diga que talvez nada resolva,
nada conserte esse meu coração. o perigo está em
remover toda lembrança tua contida a não perecer
na reminiscencia desse meu violado alçapão. são
tantas as dúvidas que uma única certeza precipitada
será capaz de apagar toda a chance de eliminar o
mecanismo que faz você sempre ser lembrada.
tudo que é inesquecível não quer dizer
que seja fácil lembrar, tudo que é verossímil é
passivo de não acreditar, aceitar tua permanência
em meu âmago, conviver com a presença de um
fantasma que assombra tanto é se entregar. para
reiniciar meu coração é preciso buscar no mais recôndito
do meu ser, você. se faz necessário perder aquilo que
já não mais me pertence, que só existe sendo ausente
e que nessa categoria se torna o que torna meu coração
um lúcido demente, meu coração uma fértil terra para
tua vitalícia semente, fruto do pra sempre, do eterno,
erva daninha da minha emoção. quanto oásis, tu foste,
hoje é um deserto meu peito, meu árido coração que
ressoa em silêncio, sedento de comunhão, de beber da
tua água que antes matava a sede da minha paixão.
tudo insiste em sobreviver, em estado de coma, tudo
ainda há, menos você.
senhores cupidos, não há o que possamos fazer. minha
alternativa é...a morte...é esse coração parar...de...
bater.

Plectro

beijo mordaz
no cerne da
carne acre.

crer no que
é crível é
usar os dentes
para de sopa
se embebedar.

mordas querida,
a magia, o
incrível, o
o inabalável senso
do acreditar.

beije o impossível,
deixe a poesia
tuas certezas
duvidar.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

terça-feira, 16 de abril de 2013

o sopro do vácuo

do frescor do
fogo ao fôlego
que trago
às moças.

beijos mudos,
boca calada.
hálito emudecido,
lábios que buscam
palavras ocultas em
beijos mudos
em bocas cerradas
de hálito úmido.

hábitos mudos,
mudas palavras.
muda as falas
o silêncio em
seus tímpanos.
dos ecos dos
restos do ruído dos
lábios, beijos...
sem boca,
das línguas,
insossas.

o sabor do
hálito agrada
apenas agora
as moscas.

domingo, 14 de abril de 2013

voragem

crises violentas de humor
dizem tanto...
tristeza, angustia, poder, pranto.
nada é tão constante e mais e,
quanto ao que resta,
variantes do mesmo poeta e
seu uso na prática.
vórtices do fluxo,
estática.

terça-feira, 2 de abril de 2013

morte e vida poesia

Manoel mudou-se para Pasárgada.
lá é feliz, é amigo do rei.
Augusto enforcou-se em um pé de Tamarindo.
fez-se metafísica como sempre quis.
O príncipe macabro abriu um necrotério.
entre defuntos e sonetos vive o poeta
Olavo, mistério.
No caminho da ternura, aquém do desespero,
voa livre o mestre Quintana, poeta, quiçá,
passarinho, lisonjeiro.
De amores , ontem morreu Vinícius. viveu
de mulheres e versos, no seu tempo quando,
a virtude foi seu vício.
Drummond partiu, foi ser gauche, foi com José
atrás das respostas dessa vida que em mil poemas
não cabe.
...enquanto eu, faço o que não sei com os versos.
com a voz da minha pena,
luto para que a poesia não se cale.
  

quinta-feira, 21 de março de 2013

O flagrante da Rosa

Ela sempre detestou ver como a filha estava ficando com um corpo de mulher.
Juliana tinha apenas quatorze anos, mas seu corpo já era de uma mulher feita.
Juliana desfilava aquele corpaço sob os olhos indignos e invejosos de sua mãe.
Rosa Maria era uma viúva de quarenta anos, desde que o marido morrera nunca
mais se envolveu com ninguém. Era aparentemente recatada, frequentava a igreja
regularmente e promovia em sua casa reuniões semanais com as carolas da redon-
deza, onde tratavam da vida alheia com satisfação. Rosa Maria sempre nutriu pela
filha um sentimento de inveja, teve ciúmes da menina até com o seu finado marido,
o pai de Juliana.
Juliana por sua vez adorava a mãe, tinha por ela toda admiração e respeito, mas
ainda assim viviam em pé de guerra.
— Mãe, eu não vou para igreja só pra te fazer feliz, eu não gosto de lá, cê sabe que
não tem nada a ver comigo, além do mais todo mundo fica me olhando, já basta
aqui em casa, esse monte de velha enxerida que só sabem falar mau dos outros.
— Todo mundo fica te olhando porque você tá sempre vestida igual uma vagabunda.
Aonde já se viu, uma menina nessa idade com essas roupas que mais mostram do que
escondem, e não entendo também por que usá-las assim tão apertadas.
— Eu não tenho culpa de ter o corpo que tenho e minhas roupas não são de vagabunda.
Sempre discutiam. Rosa Maria, não era uma mulher feia mas também não era bonita,
mesmo quando jovem. Casou aos vinte anos com o único homem que teve, e só
conseguiu casar porque estava grávida. Seu marido morto era um sujeito simples e
bobo. Em sua vida sempre foi dominado pela mulher.
Certo dia Rosa Maria saiu mais cedo da igreja, não esperou a missa acabar. Não
estava se sentindo bem, em mais de três anos essa era a primeira vez que deixava
a igreja antes do término da missa. Chegou em casa e encontrou uma jaqueta jogada
em cima do sofá. Era masculina. A sala estava toda revirada. Ela percebeu que havia,
além de sua filha, mais alguém em casa. Foi até o quarto da filha e percebeu que Juliana
estava com um rapaz, do corredor ouviu vozes conversando. Não conseguia entender
o que falavam, eram mais gemidos e sussurros do que palavras. Rosa parou em frente
a porta e ficou escutando, não acreditava que a filha estava com um homem no quarto.
Ela então resolveu espiar o que os dois estavam fazendo, se inclinou um pouco e, pelo
buraco da fechadura, pôde observar o que acontecia no interior do quarto. Juliana
estava deitada nua sobre a cama, fazendo sexo oral no rapaz. Rosa Maria não acreditava
no que seus olhos viam, a filha adolescente ali, pelada com um homem em seu quarto,
e em pleno ato sexual. Rosa ficou calada e continuou observando até o sujeito encher
a boca da jovem de porra. Rosa correu e saiu de casa, quieta sem fazer barulho. Foi
até a esquina e ficou escondida olhando para casa esperando alguém sair, logo em
seguida o rapaz saiu. Rosa Maria então se dirigiu para casa, abalada por dentro mas
tranquila por fora como se nada tivesse acontecido. Entrou em casa e Juliana estava
no sofá vendo tv. Quando a mãe chegou Juliana foi beija-lá, Rosa Maria se esquivou,
falou que estava apertada para ir ao banheiro. Rosa pôde pensar em tudo que viu.
Ficou em frente ao espelho, lembrando da cena, a filha tão jovem e tão devassa.
A visão de Juliana chupando o rapaz não saía da cabeça de Rosa e,
naquela noite, ela sonhou com o ocorrido. Mas no sonho, Rosa não só pegava os
dois em flagrante, mas também participava do ato. Ela e a filha revezavam o pau do
rapaz como se aquilo fosse uma gincana em família. Acordou toda suada e com um
calor que já há bastante tempo não sentia. Levantou e foi tomar um banho gelado.
A água fria refrescou o seu corpo mas não tirou o sonho de sua cabeça. Nesse banho
Rosa se tocou como nunca antes havia feito.
Uma semana havia passado e Rosa Maria não tocou no assunto com a filha, Juliana
não suspeitava que a mãe à havia flagrado com a boca, literalmente, na botija. Ao
longo dessa semana pensou muito no que viu e, toda vez que lembrava do fato, logo
ficava excitada. Sempre ficava à imaginar ela no lugar da filha. Começou a tratar Juliana
com mais amabilidade, insinuava interesse pela filha e fingia se preocupar com a vida da
garota. Certa vez perguntou pra filha se ela não estava de namorico com alguém, Juliana
falou que não, disse que era muito nova e ainda não pensava nessas coisas.
"Vagabunda mentirosa" - pensou Rosa Maria - enquanto falava com a filha. Na semana
seguinte Rosa saiu para ir a missa como de costume, se despediu da filha e seguiu em
direção a igreja. Mas nesse dia ela não foi assistir a missa. Ficou de tocaia observando
a casa e esperando pra ver se Juliana receberia de novo o rapaz, dito e feito, cinco minutos
após a saída de Rosa, o rapaz entrou na casa.
— Filhos da puta-falou consigo Rosa Maria. Esperou dez minutos e voltou para casa. Entrou
sem fazer ruído. A sala estava em ordem dessa vez, foi direto pro quarto da filha e com
certa ansiedade se pôs a observar. Juliana estava vestida, ela e o rapaz. Os dois, deitados
na cama, apenas conversavam. Rosa ficou decepcionada. Saiu e foi para igreja. Naquele
dia na missa só pensava no corpo nu da filha e no rapaz de pau duro a violentar a boca
de Juliana sem nenhum escrúpulo. Salivava, enquanto lá na frente o padre entregava o
corpo de Cristo aos fiéis.

quarta-feira, 13 de março de 2013

apócrifo


diz a poesia que poeta não vive, pena.

entende que tudo que dói é vida. na dúvida,
a vida, incita a dor todo amor  que cativa.

diz a poesia que poeta não ama, pena.

a responsabilidade em sofrer é daqueles em quem
o amor acredita e, credita neles, os apaixonados,
todas as glorias dessa mesma vida.

disse a poesia.
diz ser poesia.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Do blues ao Tango

confesso que não sei se é tristeza
e também não é cocaína, mas
ando meio 'bluesado', sabe?
preso em mim, fugindo dos
outros, bastante ensimesmado.

não há nada que se aproveite
naquilo que ando escrevendo.
meus versos são tão os mesmos
que vivo num déjà vu poético.
realmente não consigo por nada
sentir apreço.

mas a tristeza é tão bonita.
ela me faz enxergar a face
feia da vida. meu semblante
fica com um jeito de entardecer,
aí eu sorrio. mas é deprimente
o riso nos lábios de quem mente,
é uma esfinge que te devora sem
aviso.

não consigo achar interessante
nada, ninguém. na rua enquanto
ando, são todos tão estúpidos,
os transeuntes passando. imagino
sendo eu um deles e, me observando,
fico deprimido. abaixo a cabeça e
ando.

confesso que não sei se é tristeza,
mas ando meio 'bluesado' e
minha vida parece um tango.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

A Sexta Chamada

Converter em arrependimento o amor. O valor terá a mesma cotação do que tinha,
o desprendimento da dor. Será o mesmo sentimento mas com outro sabor, será
arrependimento.
Há como se arrepender de amar, ou melhor, de ter amado?
Será que posso não prejudicar meu presente e não comprometer o futuro se me
arrepender do passado, ainda mais num passado que houve amor?
Será um futuro órfão, auto-depreciativo, cheio de rancor. O presente é o responsável
pelo pedido de anulação das reminiscencias , por se proclamar prejudicado. É o presente
que pede a abolição do passado, sem clemencia.
Penso que seja fácil fazer a conversão. Pego todo o amor que ainda sinto, amor ainda
bastante vivo e ativo; pego toda a mágoa, a angustia, os traumas, a saudade, as lembranças,
a imagem do rosto, o cheiro do cabelo, a beleza do corpo, o matiz dos olhos, o beijo,
o olhar, e o enunciado, a memória auditiva da primeira vez que o coração ouviu a condenação
desse passado, o matador "eu ti amo".
Pego tudo e subverto, faço uma inversão apurada e somo a isso tudo a minha vontade de
deletar todo esse histórico. Consigo uma importância significativa e compatível com aquilo
que se sentia, na verdade o contrario exato daquilo que se sentia. Pronto, e agora o que faço?
Só há um único jeito de isso acontecer. Matar o passado. Preciso matá-la.
Já sei, vou esperá-la na saída do trabalho, fico umas quatro quadras acima, espero na esquina,
na penumbra. As dez horas da noite naquele local não passa ninguém mesmo, é isso, é o que
vou fazer. Mas como vou matá-la? Acho que o melhor é com um tiro. Espero ela passar e
saio de trás do muro, em silêncio, pé por pé, me aproximo um pouco e atiro na cabeça. Se
for preciso pra garantir dou uns dois ou três tiros. Ninguém irá ouvir o barulho, aliás, se ouvirem
será apenas só mais alguns tiros na noite. O ruído principal é o que não ouvirão, e é o que eu
faço questão de ouvir, o som da queda do seu corpo no chão, já sem vida. Talvez eu até me
esconda ali perto, pra quando acharem seu corpo eu ter a certeza de que está morta.
Caramba, fazem duas semanas que ela me ligou e disse que não me amava mais e que
estava terminando nosso namoro de quase dois anos. Dois anos, e ela termina por telefone.
Vai ser a primeira vez que à vejo desde o rompimento. Vou matá-la amanhã.
Nove e meia e já aqui, esperando. Preciso me acalmar, estou muito ansioso, preciso ficar
tranquilo pra na hora não me atrapalhar. Droga, os minutos parecem inertes, não passam.
Será que desisto, deixo para outro dia. Não vai dar, vai ter que ser agora, ela ta vindo.
Posso vê-la vindo lá embaixo, umas duas quadras. Droga, e agora o que faço? Já sei,
vou ligar pra ela agora, como quem não quer nada, só pra encher o saco. Dependendo
do que ela me fale talvez eu até desista de fazer isto hoje, ou quem sabe desista da ideia
de matá-la. É isso, vou ligar pra ela.
Ligo, a primeira chamada, já posso ouvir os passos, ela tá na esquina de baixo. Segunda
chamada, mais uns vinte metros e ela passa por mim. Terceira chamada, posso vê-la
passando quase pela frente de onde estou escondido. Quarta chamada, ela está mexendo
na bolsa, acho que procurando o celular. Consigo ouvir o toque do aparelho chamando.
Quinta chamada, ela acha o telefone, vai atender mas antes olha o visor pra ver quem está
ligando. Irritada, ela diz:
— Ai meu Deus, não acredito que esse merda do Marcelo tá ligando a essa hora. Só falta
essa agora, esse idiota estragar minha noite- Sexta chamada, Ela atende:
— Alô!
— Alô, oi Adriana, tudo bem? Tenho uma surpresa pra você, olha pra trás.
Ela olhou. A cara de espanto e nojo foi a última expressão que eu vi naquele rostinho
lindo. Foram quatro tiros, todos na cabeça. O corpo cai, o sangue escorre pelo asfalto úmido.
Pego o telefone dela e saio, vou embora, satisfeito.
Na pior das hipóteses, daqui pra frente, agora tudo será só arrependimento.