Superstição

Um pedaço de rocha
vindo do espaço
atravessou nossa
atmosfera e,
caindo e enquanto
queimava, ao me
observar distraído
olhando para o
nada, fez um
pedido segundo
manda a superstição.
O que pediu ninguém
sabe para que o desejo
possa assim se
realizar.
Deus, quanta bobagem,
não?

O algoz

Porvir por vir,
o que será?
virá, verá, será.
O fim virá a vera,
feroz vocifera,
o fim, a fera feroz,
em ira o fim,
enfim, o algoz.

Avenida

As coisas estão melhores assim
como estão, me disse a
vagabunda da inércia apontando
para a minha vida.

Não concordo contigo,
disse eu a ela,
levantei do sofá
e fui para a avenida.

Em fim

A dança última
a bailar o último
baile, a contra
dança do adeus
a contra vontade.

O canto do cisne
se abateu sobre o
meu silêncio para
após apenas o
silêncio da morte
ressoar.

Chegamos ao fim
afinal e enfim a
vida em nós acabará.

A vida em nós
ávida em mim
não mais arderá.

Quando

Nada nesse mundo
é mais velho do
que o passado.

Para existir no
sempre é preciso
viver de vez em

quando.

Para viver a eternidade
é preciso deixar que o
pra sempre seja temporário.

Te Deum

Confesso que tento dissuadir
Deus de desanimar, que ele
não desacredite da minha
vitória e que eu consiga fazê-lo
crer que depende dele toda a
minha glória e bem estar.

Eu, um para raio em relação
aos céus, um contra católico
pagão, sem religião e favorável
a Deus.

Todos os dias minha mais
fervorosa oração é acreditar,
e quando duvido de tudo,
sei que estou mais próximo
de me encontrar, mas posso,
sei muito bem disso, estar errado
em buscar nisso uma verdade
para adorar.

Deus é o senhor absoluto de
todos os meus pecados, e eu
sou um ponto nulo aqui na
Terra para ele sublinhar.

Coca

Se tem cheiro ou não,
não importa, não é
por isso que há quem
a queira, quem a deixe.
É apenas uma droga,
não uma rosa,
é o perfume da química,
mas dizem que, a
cocaína, não é flor que
se cheire.

O pranto

São doces olhos as nascentes do mar,
mar em que me afogo quando mergulho
para além das profundezas desse olhar.
São pérolas líquidas as lágrimas desse
pranto, desse oceano que vem sempre
me afogar, e tão misteriosos são os
encantos, mas eu que a amo tanto como
posso ser o responsável pelo chorar?

Ninguém nunca entenderá
o que se passa na alma de
uma mulher,
o riso, o sorriso, o pranto,
a escolha de um bem querer,
e os olhos que em um dado
momento nos afogará.

O eunuco e A virgem

Triste a sorte da virgem
apaixonada por um eunuco,
sórdido destino.
Ele, condenado por sua condição,
e ela, inviolada, sente pulsar
no seu sexo o amor que regula
os batimentos do enamorado
coração. A natureza da fêmea
diz, através do cio da virgem,
que o desejo de ser possuída
é saudável e natural, mas o
pobre eunuco nada pode fazer,
pelo menos não do modo habitual.
O apaixonado eunuco, em nome do
amor que sente, permite que sua
amada busque fugir da sua prostração,
consente que a virgem tenha uma
noite de sexo e que ela escolha o
parceiro que achar ideal. A virgem,
religiosa e ortodoxa, condena a traição
e fala para o amado que pretende
morrer pura e casta, não terá com
nenhum outro homem tal relação.
Mas a donzela é sábia, uma vez que
ela não prove desse prazer carnal,
nunca sentirá arder em si o desejo
pelo sexo, a não ser apenas essa
curiosidade de virgem, mas acredita
ela que isso em breve passará, normal.
Porém, o guardião da nudez feminina
não aceita, para ele é injusto que sua
jovem dama se sacrifique assim, afinal,
ele sabe que no íntimo da alma dela há
uma vontade louca de ser tomada e
amada sim, desse jeito animal.
Percebendo que sua recusa afligia seu
amado, a virgem então decide se
entregar a um amante profissional.
Na noite em que houve o encontro,
o eunuco ficou a se sentir estranho,
mas sabia ele que o que permitia era
por amor, e a virgem também
compreendia a situação desse jeito,
por amor, pelo casal.
Após uma semana (os dois decidiram
que uma semana seria um tempo bom
para a virgem poder provar do prazer
do sexo e depois, por amor, se abster)
volta a desaventurada dama para os
braços do seu eunuco. Abatida e triste
porém. Ao ser indagada sobre como foi
o encontro sexual que teve, a virgem,
já não mais virgem, chorou e sorriu
ao mesmo tempo. Disse que tudo foi
consumado, mas não aconteceu como
ela queria. De fato já não tinha mais o
cabaço, mas quanto ao prazer, descobriu
ela que depois de uma semana de muito
sexo, era frígida, fria como o ártico.
Assim, em comum acordo, os dois
viveram felizes para sempre.

Sou esse

Parte de mim
desconheço e
parte de mim
sou esse,
sou eu...
e isso me dá medo.

Ocaso

A garantia da vida
é a morte que virá
com a aurora de um
novo dia.

Os velhos dias de antes
ficarão para sempre
presos ao teu passado
vivo.

Teu futuro é a morte,
o crepúsculo da vida
se avizinha, adiante.

Sacerdócio

A voz, a mais poderosa das
forças humanas. O grito, o
diálogo, a linguagem (dialeto)
que se fala e proclama.

A voz deseja o berro a vos,
e quando emudece,
é de propósito.

Desejo falar com o coração,
com a alma...como poeta,
minha boca em minhas mãos,
minha pena minha língua, e
o silêncio meu sacerdócio.

Versadores Vencidos

Aforismos bobos,
haicais insossos,
poesia concreta?
Ora essa!

Normas, regras, estética.
Abaixo toda essa merda!

Elegias, odes assimetricas,
poemas e sonetos livres, eis o
que me apetece. eis o
labor do poeta sem rédeas,
aquele que produz poesia
com alma e coração, e não
segundo reza a cartilha de
versadores vencidos pela
métrica, e dos que põe
cabresto em sua inspiração.

Rima Fácil

Seja diferente de tudo
que há, de tudo que
houve e existiu, e então
no futuro alguém se
espelhará nisso que hoje
você decidiu.

Horror enredo

Veja, perceba o
ao redor:
Ouça a cena,
não ouse apenas,
mas faça, tente.
As personagens que
interagem com o
quase. Há plágio e
copias grotescas
do mesmo plágio
atuando juntas e
ao mesmo tempo
no mesmo palco.
Encenam a vida
que poderiam ter
e ser e atuam
naquilo que não são,
de protagonistas passam
a ser figurantes de si
mesmos em um enredo
alheio.
Veja, observe:
São personagens feias,
falsas, torpes...

No fim o espetáculo
da vida humana é
um grande show de
horror, mal interpretado,
porém, muito bem escrito.

Quietude

Em silêncio, meus pensamentos
produzem um ruído estranho.
Se comunicam entre si
balbuciando interjeições que a
estranhos causam espanto.

São retóricas do absurdo que,
quando calam,
violentam o silêncio
através duma quietude
de surdos urros.