Vital

Quem nunca morreu

pelo menos uma vez

em toda a sua 

existência, 

quando finalmente 

em definitivo morrer,

não terá vivido

plenamente. 

Ao Vivo

Arbitrário Abstrato:

diante dos meus

olhos

suicidou-se a

eutanásia quando 

eu quis morrer.

Lapsos de um Apocalipse

O mundo acabou, mas não acabou

a vida. Esta ainda há. Surge, e

insiste em sofrer, pois de resto

já acabou tudo.

Deus morreu já há muito, mas seu

fantasma insiste em assombrar os

escombros do mundo próprio, 

próprio mundo que acabou. 

Os Homens ainda se odeiam,

ainda insistem em morrer pelas

mesmas razões que matam,

ainda se matam pelas mesmas

ambições que ousaram viver.

Mas também já não vivem,

o mundo acabou. 

A humanidade acabou...com tudo,

e a queda de toda natureza, mais

esse tudo acabado, não conseguiram

destruir completamente com a 

causa de suas ruínas. 

Por entre tudo destruído a humanidade 

ainda está de pé, reciclando o que

arruinou para poder destruir de novo,

pois a humanidade tecnológica 

a de vencer.

Mau Poeta

Assim parece...

que Deus sempre

escreve torto

por linhas

retas.

A mim parece.

Leia!

Esquecer para todo o sempre

um segredo jamais revelado 

tem o mesmo gosto que tem o

sabor de um silêncio nunca

antes compartilhado, nunca

antes até esse momento. 

O segredo esquecido é esse

silêncio aqui revelado e

somente você sabe disso.

Leve esse segredo sempre

consigo, e esse silêncio 

ficará só entre nós dois.

Lembre-se disso.

Queimados

Meus cigarros morrem 

de câncer por permitirem

ser fumados por mim

durante muito tempo. 

Eu sou uma doença!

Imemorial

Prematuramente assíduo, 

o tempo,

me traz a morte aos poucos, 

todo momento, hora e

segundo, insistentemente, 

durante a vida que se leva

enquanto a mesma vida me

leva para as mortes parciais

diárias, pela existência toda

na mesma via que corre o

tempo, este entregador de 

mortes à domicílio, você 

estando em casa ou não. 

E se o tempo é eterno a morte

também sempre será, e depois

que passar essa minha 

eternidade, eu até posso 

morrer outra vez,

mas viver uma outra vez

de novo, jamais.

Passar uma chuva

Dizem que quando se passa café

enquanto se espera passar a chuva, 

confundem-se as nuvens e assim

as mesmas pensam ser um coador,

e então a chuva que cai faz o céu 

pensar que está passando café, 

nesse ínterim, chove torrencialmente 

no bule sobre a mesa.

Fume um cigarro e vá embora, 

ou fique por mais uns anos e se

a chuva demorar para passar

espere a vida toda para ir ou

termine o café e até logo.

Co-fundem-se café  e chuva

e céu e mesa.

Dasdu Asuma

A insônia desacordada, 

a mesma de sempre que

ora sonâmbula sorumbática,

ora em uma modorra que

a faz parecer com cara de

deusa Maia.

Hoje desmaiou tamanho

o cansaço poético dos seus

sonhos reais, patéticos,

onde deles ela jamais

despertou, ou neles jamais

aportou?

Das duas uma.

Esta insônia idealista

vive de sonhos e meninices.

Entre Linhas

Impossível fazer poesia e

safar-se sem culpa. 

Impossível. 

Porém, dá gosto ser

culpado por estar a

ser poeta no querer

de cada dia das duas

últimas décadas inteirinhas. 

A culpa do poeta é e está 

sempre pelas entrelinhas. 

Mesmíssima Trindade

O Homem inventou Deus

Deus inventou o Diabo

O Diabo inventou o Homem. 

O Homem inventou o Diabo 

O Diabo inventou Deus

Deus inventou o Homem. 

Escuro Brilhante

Da cor da noite e

do universo todo,

é escuro brilhante 

o porão do meu

C O R A Ç Ã O.

É nesse porão que

me abrigo quando

desço do sótão 

solar da minha

C A B E Ç A.

Insert Coin

Exausto não desejo mais o temor

de uma nova esperança, eu quero

muito a partir de agora acreditar. 

Se não fiquei esperando veio por

aqui a vitória mas eu não estava 

em casa, jamais estive por toda 

essa última existência, estive eu

sempre a tentar, a buscar. Temia

ter de esperar acontecer, jamais

me ocorreu qu'eu devesse acreditar 

que um dia a vida acontece e então 

nesse dia vencemos. Nunca pude

visualizar que assim seria, sempre

estive muito cansado demais de 

estar lá, fora de casa e longe do lar,

fora do tempo que se espera, por ter

ido muito atrás do tempo da glória, 

do tempo das dádivas é que quando 

as alvíssaras me alcançaram eu não 

estava lá. Perdi o tato do tempo dando 

as mãos ao meu redor a todo ambiente 

que sugerisse continuar, continuei e

estava a continuar quando cansei.

Agora quero viver de esperanças,

agora eu desejo apenas acreditar, 

nada mais faço, nada mais busco, 

e eu sei QUE DEUS proverá minha

conquista do tamanho do alcance 

da esperança que sinto, e não pelo

tamanho do meu cansaço, não pelas

minhas cicatrizes que consegui nessa

vida por tanto tentar.

Exausto não tenho mais disposição 

para um novo tentar, aqui eu paro,

eu acabo aqui. O tempo do meu futuro 

é esperança, e espero sinceramente 

não cansar outra vez, outra vez

nunca mais, eu acabo aqui.

Agora que são Eles

Desenham deuses em meu coração. 

Desdenho. 

Desejo adeus a Deus e meu nunca

mais até para os ex-deuses também. 

Novos tempos 

s u r g i r ã o,

e com eles outros seres de outros céus

para neste serem o que já fomos uma

vez. Seremos nós de novo agora que

são eles.

O futuro sempre foi outrora,

como o presente de há muito

tempo sempre foi agora.

Soneto

Meu medo do futuro é 

que ele possa te levar. 

Eu faço do absurdo um

abrigo, eu finjo um lar. 

Minha alta ansiedade é

maior é maior por ti é

amar, jamais admitir em

te perder eu me prendo

nessas de acreditar,  creio, 

e sei que vai passar o tempo 

o mesmo tempo chegará, e

quando o fim sobre nós os

olhos pousar, será verdade 

toda alta ansiedade em amar.

Full File

Empilhando falhas

para não tropeçar

nos mesmos erros

espalhados pela

casa. Tenho um

espaço reservado 

para cada fracasso, 

e todos estão cheios.

Daqui a muito pouco

estarei pronto para

começar a minha

coleção de conquistas. 

E para cada erro

repetido eu tenho 

sempre novas

possibilidades. 

Prassempre

Estarei na eternidade,

como estou;

Viverei para a morte,

como vivo;

Meu destino será Eu,

como sou;

Meu prassempre será

                           [agora]

como é...

Todos os meus ontens

            [virão amanhã]

como hoje;

Morrerei de amor,

como vivo.