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sábado, 29 de dezembro de 2012

evolveris


a você, meu bem, o que eu nunca disse,
agora repito:
-abaixo a gloria dos deuses,
que venha a queda dos mitos.

quando você quis falar por mim,
apenas aumentou o volume do silêncio.
sabe tudo o que penso sobre tudo
aquilo que sempre pensei?


ser tudo sendo todo meu ser,
ainda que eu seja pouco...

o meu todo serei.

que bom que ainda luto pelos mesmos
ideais que sempre me dei.
que bom que não comprei a ideia,
que bom que não comprei a ideia
de que poderia ser tudo, é o dom
de não se vender, saber que serei
único nesse mundo a jazer...resoluto.


muito são os outros.
são tudo são todos.






quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Armagedom

e então restou o fim,
com medo do mundo, do temido mundo.
restou tímido, o fim absoluto,
absorto, resoluto.

sozinho, esquecido, abandonado.
o fim em meio as coisas da vida,
da vida de todos de um mundo 
acabado...

pra onde irá o fim? não é mais esperado,
já consumido já consumado.

o alimento dos temerosos, o combustível,
o insólito.
não há mais quem tema, hoje o fim do mundo
é santo sem crença, sem discípulos...no altar o
fim ajoelha, pede pra solidão clemência e, 
tendo a ciência do que virá, amaldiçoa a eternidade
e desespera-se pela humanidade que não tem 
mais para exterminar. 


segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Puída

rota, gasta...
-sinhô, óia que é di dá dó.

mas na rua ficou
marota, maloquera...

hoje é punk e prostituta.

-tadinha, é só poesinha seu dotô.

E O QUE SERÁ DE NOIS SINHÔ,
SE ELA PERECÊ?

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Desatino

Compondo sobre a mesa,
o poeta,
entre versos que apodrecem,
à espera...

passa noite
passa dia,
passa a toa
em agonia
destoa, desafina
não afronta
não as horas
que não passam
nem afirmam
se outrora
já passaram
ou se apenas
existiram.

Contraponto de ideias
entre o tempo e o destino.

Decompondo-se sobre a mesa
o poeta em desatino.

domingo, 5 de agosto de 2012

soneto

 
teus olhos claros,
teus dentes brancos.
são tão bizarros,
são estranhos.
 
teu talento é a beleza,
tua grandeza um sobrenome.
teus encantos só põe na mesa
tudo aquilo que não se come.
 
és uma virgem. domingo na missa chora,
ora, reza, hipócrita prece. mas o espelho
lhe dá a imagem de vadia que merece.
 
o que não conquista com a cabeça
nem com a beleza da alma, consegue
com a bunda e com tua buceta que lhe salva.

domingo, 3 de junho de 2012

musa emudecida

as palavras mais belas que já ouvi
saíram da tua boca.
precedidas de beijos e,
estes com gosto de láudano que
curavam a alma e o corpo
inflamava sob a roupa. havia
em meus ouvidos, nesses instantes,
divina melodia e, as batidas
do meu coração oscilante suavizavam-se
em ataráxica arritmia. tua
pele de suavidade cobiçada pela seda
em contato com meu tato dilatavam-se
os poros e, em gloria todo o desejo,
um prazer de extrema grandeza.

oh! como dói a falta de tais beijos!

a certeza de não saber
se terei de volta os teus lábios
traz a mim profundo desespero,
um alento de um decaído hágio,
hábil demônio faceiro. em fusão
com o que me assombra se soma
ainda a culpa de não ter
sido o seu amor primeiro...
pra ti não fui e menos ainda sou,
pois meu coração hoje já não possui
aquele teu ensaiado amor.
agora deliro sendo poeta, de lírios
nas mãos com minha amaldiçoada
alma aberta à lua, de lira e pena histérica.
diante do teu corpo...morto, vejo
os vermes em festa que parecem
saber que degustam a fria carne
putrefata da dama mais bela,
do corpo mais formoso que,
após recusar-me como dono,
da boca já não saem mais palavras belas.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

soneto

               
o que sugere a esperança,
o direito a um lugar na fila,
uma  transa com aquela menina,
ou uma benção divina?

qual a esperança que te move,
a falta de sorte dum destino que
não anda, aquela prometida transa
que na hora H não ocorre?

qual a esperança que te fode,
a de nunca ver cair o estado
e a sua maldita mediocrata prole?

não crê na esperança o homem
bomba que se explode, ou...talvez
assim...essa atitude...algo resolve?

sexta-feira, 30 de março de 2012

Soneto

machuca ao sarar
doi por não doer
quando amor
mais não há.

não há amor,
não mais haverá.
se houve foi em
dissabor a gloria

de amar. machuca
ao sarar, doi por
não doer quando

amor mais não
há. não há amor,
não mais haverá.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

soneto cantado

não peça amor quando voltar/
eu não pedi pra tu partir/
na certa o amor retornará/
mas sem você pra me ferir/

peça licença para entrar/
meu coração a exigir/
mais de você pra me ganhar/
de novo até a hora de ir/

a minha pena a desenhar/
versos sem paixão aqui/
saiba que não mais haverá/

sentimentos pra tu consumir/
não peça amor quando chegar/
se ainda me quiser pra ti.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Despedida

era a noite dela.
a tão, por mim, aguardada.
a ultima noite no mainstream.
estava linda, com a tez suave e pálida.
apesar de ser a sua noite, permaneceu calada.
sempre foi de poucas palavras, não falava à toa.
tinha o olhar de todos, à cercavam,
alguns queriam até toca-la, continham-se.
ela, no centro, esnobava todo mundo num silêncio profundo.
seus olhos diáfanos descansavam sob cerradas pálpebras.
seus lábios tácitos, de um desenho frio, ainda provocavam,
mas
um beijo neles, naquela hora, não era apropriado.
os cabelos, tão vivos ao toque
do vento, naquele momento, repousavam calmos sobre os ombros.
como uma negra cortina, embelezavam ainda mais o seu colo.
ela, vestida de branco como uma falsa virgem, linda, que ao meu lado
sempre me fez sentir um lord, cumprimenta a vida.
era a noite da morte. a noite da despedida.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Os Sinos de Elisa

Ela balbuciou alguns passos diante do espelho. Sentia-se extremamente sexy naqueles sapatos. Vestia uma cinta liga vermelha e por cima um sobretudo. Foi até o criado mudo, abriu a gaveta e pegou um cigarro, antes pôs pra tocar o álbum "The idiot", do Iggy Pop. Desde que lera que Ian Curtis se enforcou ouvindo "The idiot", decidiu que quando chegasse a hora faria o mesmo. Simulou alguma tristeza, queria alguma oração mas, não sabia nenhuma. Desconhecia até a paternidade de Jesus. Pouco importava Deus pra ela, e nessa reciprocidade buscava forças para o que ia fazer. Chamava-se Elisa. Tinha dezesseis anos. Morava em um quarto sujo, no sétimo andar de um prédio em ruínas. Desde quando abandonou o orfanato morava ali, conseguiu o quartinho com um funcionário do orfanato. Era um sujeito extremamente repugnante. A ajudou  a fugir e lhe deu abrigo. Elisa pagava o favor  todas as sextas com sexo. Foi o trato firmado antes da fuga, seis meses atrás.
— A vida é mesmo uma merda!- dizia.
Abandonada pelos pais numa maldita igreja, foi acolhida por um padre pedófilo que a ajudava na mesma proporção do abuso. Em meio a tantos santos assustadores, a única coisa de que gostava eram os sinos, o barulho a impressionava e, ficava admirada com o balançar, a dança dos sinos.Tinha na época quatro anos. Ficou sob o zelo do padre por quase três anos. Apesar dos abusos do padre, tinha uma confusa simpatia pelo solidário, monstro, de batina. Até a noite que decidiu fugir. Morou na rua por seis anos, sobreviveu graças a seu karma que era pesado demais para permitir que morresse. Quando estava com doze anos, foi violentamente estuprada por três garotos um pouco mais velhos que ela. Elisa já sabia que o inferno fazia parte de sua vida e quando sarou as feridas já quase não lembrava mais do ocorrido. Dois meses depois descobriu que estava grávida. Uma médica que prestava serviço voluntário num albergue onde as vezes Elisa dormia à deu o prognóstico. Proibiram que Elisa dormisse ali desde então. como uma gota d'água doce no oceano, a médica decidiu ajudar. À levou para um orfanato. Era a mais velha  de um grupo de trinta crianças. Trabalhava muito, era maltratada pelos funcionários, não aceitavam o fato de uma criança de doze anos estar grávida. De tanto trabalhar e apanhar, Elisa perdeu o filho. Ficou feliz. Permaneceu sendo maltratada por mais dois anos, foi quando mudou a administração do orfanato. Foram contratados funcionários novos e, Elisa não mais era maltratada. Mas o orfanato ainda era uma prisão, existiam normas, horários e tarefas. Mais uma vez Elisa queria fugir. Foi quando conheceu Geraldo, o zelador. Era um sujeito sujo, gordo e quase todo ignorante. Desde a chegada no orfanato, Geraldo não tirava os olhos de Elisa. Ela, por mais repulsiva que fosse a ideia, decidiu tirar proveito da situação. Estava com quinze anos. Elisa começou então uma aproximação, pedia cigarros, em troca deixava ele se masturbar, enquanto, nua, fumava. Era num quartinho escuro nos fundos da sala da limpeza. Geraldo terminava antes de Elisa chegar na metade do cigarro. Tudo durou um mês, Até Geraldo decidir ajudar na fuga. Mas, antes à ofereceu o quartinho e as condições para Elisa usa-lo. Elisa aceitou sem pensar. Nunca tivera um espaço só pra ela, e mesmo não sendo dela, o ocuparia sozinha. Salvo as sextas em que tinha que pagar o aluguel, mesmo assim, Geraldo nunca conseguia ficar mais que dez minutos. Haviam algumas revistas velhas empilhadas num canto do quarto, o tempo passava a medida que Elisa lia. Aprendera a ler com o padre. Leu, certa vez, um artigo onde dizia que Ian Curtis havia se enforcado tendo como trilha sonora o álbum "The idiot" do Iggi Pop. Não sabia quem era Ian Curtis, mas conhecia Iggi Pop e decidiu que queria a mesma trilha sonora para sua derradeira hora. Em outra revista tinha a imagem de uma prostituta, dessas de luxo. Ela vestia uma cinta liga vermelha, um sobretudo e sapatos de salto alto, pretos. Alem da cama, um criado mudo e um espelho, havia também no quarto um toca discos. Decidiu que iria tirar um último proveito da bondade sádica de Geraldo. Na sexta seguinte entregou para Geraldo o recorte da prostituta e lhe disse que queria, a cinta liga, o sobretudo, os sapatos e também o álbum "The idiot", explicou certinho pra ele o que era e quem era Iggi Pop. Disse que se não comprasse o que pedia iria embora e nunca mais ele iria vê-la. Com medo de perder seus únicos dez minutos de prazer na vida, Geraldo aceitou. Na sexta seguinte, trouxe tudo que ela havia pedido. Elisa sorriu, e fez o que nunca havia feito antes. Deu um molhado e demorado beijo. Geraldo acabou ejaculando em suas calças e, envergonhado, saiu correndo. Elisa sorriu. Agora era hora de pôr em pratica seu plano. Colocou o espelho, com certa dificuldade, no centro do quarto. Despiu-se. Vestiu a cinta liga, calçou os sapatos e pôs o sobretudo, mirou o espelho, olhou os sapatos, passou a mão pelo seu corpo como quem usasse o tato pela primeira vez. Admirou-se. Sorriu. Pegou o criado mudo, colocou em frente ao espelho. Pegou um lençol já devidamente amarrado em outro, subiu no criado mudo e os amarrou na viga central do teto. Para testar se estava corretamente amarrado se balançou, lembrou dos sinos, se balançou de novo, parecia se divertir, ela ria. Balbuciou alguns passos diante do espelho, sentia-se extremamente sexy naqueles sapatos. Pegou um cigarro e colocou "The idiot" para tocar. acendeu o cigarro, simulou alguma tristeza, porem, sorria.
Subiu no criado mudo, passou o lençol no pescoço, amarrou fortemente de modo que o nó não desatasse, olhou uma última vez no espelho, pensou no padre, sorriu. Deixou o corpo cair, solto, bailando, como os sinos da maldita igreja que sempre gostava de ficar olhando.